ReThink. Porque é urgente repensar a gestão das empresas? Por Luis Rasquilha
Um mundo em transição exige uma nova geração de líderes preparados para o imprevisível.
Vivemos um tempo de transição. O que antes era previsível, hoje é incerto. O que era estável, tornou-se volátil. O que era local, agora é global. Neste cenário, a gestão empresarial enfrenta o maior desafio das últimas décadas: compreender e responder a um mundo em mudança profunda, rápida e multidimensional.
Não se trata apenas de uma crise, de uma guerra ou de uma nova tecnologia. O que estamos a viver é uma reconfiguração total dos contextos económico, político, social, ambiental e tecnológico. E esta transformação exige dos líderes empresariais algo que vai muito além da experiência acumulada: exige consciência contextual, pensamento estratégico de futuro e capacidade de adaptação contínua.
As forças que estão a redesenhar o mundo empresarial
As empresas já não operam num ambiente estático. As mudanças ocorrem de forma sistémica e simultânea, exigindo uma leitura atenta da realidade e uma capacidade renovada de resposta. Eis algumas das principais forças que impõem essa revisão urgente da gestão:
🌐 Mudança Geopolítica e Reconfiguração de Poderes
Estamos a assistir a um realinhamento das forças globais. As tensões entre os EUA e a China, a guerra na Ucrânia, a instabilidade no Médio Oriente e o avanço dos BRICS estão a transformar a lógica da globalização. A velha ordem centrada no Ocidente está a ceder espaço a uma multipolaridade que altera relações comerciais, cadeias de abastecimento e decisões de investimento.
Exemplo: A relocalização de indústrias críticas para a Europa, após a disrupção nas cadeias de abastecimento causadas pela pandemia e pelos conflitos, é uma resposta clara à necessidade de resiliência estratégica.
📉 Instabilidade Económica e Novos Modelos de Crescimento
Inflação persistente, aumento das taxas de juro, endividamento público elevado e desaceleração do crescimento económico global criam um ambiente de grande incerteza. Ao mesmo tempo, surgem novas lógicas económicas baseadas na digitalização, circularidade e economia do conhecimento.
Dado relevante: Segundo o FMI, mais de 70% dos países enfrentarão desaceleração económica em 2025, com impacto direto no investimento privado e no consumo.
💻 Transformação Tecnológica Exponencial
A inteligência artificial generativa, a automatização, a blockchain, o 5G e o metaverso não são mais "futurismos" – são realidades que estão a impactar profundamente a forma como se gera valor, se comunica, se lidera e se toma decisões.
Exemplo: A OpenAI, através do ChatGPT, alterou o paradigma do atendimento ao cliente, da análise de dados e do marketing digital. Startups e grandes empresas reconfiguram os seus modelos operacionais com base nestas ferramentas.
🌱 Sustentabilidade como Pilar Estratégico
As empresas estão sob crescente pressão para adoptarem práticas ambientais, sociais e de governação (ESG). O impacto climático, a escassez de recursos, as exigências regulatórias e a consciência dos consumidores obrigam as organizações a repensar as suas cadeias de valor.
Dado relevante: O Pacto Ecológico Europeu impõe metas rigorosas para a neutralidade carbónica até 2050. Empresas que não se adaptarem correm riscos financeiros, legais e reputacionais.
👥 Mudança Social e Evolução do Capital Humano
As novas gerações exigem um propósito claro das organizações. Valorizam flexibilidade, diversidade, impacto social e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. O modelo tradicional de trabalho e liderança está em erosão.
Exemplo: Empresas que mantêm uma gestão hierárquica e inflexível têm mais dificuldades em atrair e reter talento jovem qualificado.
O problema: estamos a liderar com mentalidades ultrapassadas
Apesar de tudo isto, muitas empresas continuam a operar com modelos de gestão construídos para um mundo que já não existe. Estratégias desenhadas para contextos lineares, previsíveis e controlados tornam-se rapidamente obsoletas.
Há um desfasamento crescente entre a realidade externa e a estrutura interna das organizações. As reuniões de conselho ainda discutem orçamentos trimestrais como se o contexto macroeconómico fosse estável. Os departamentos de inovação continuam a ser isolados das decisões estratégicas. A transformação digital ainda é vista como "projeto de TI".
Este desfasamento é, hoje, um dos maiores riscos empresariais.
O futuro exige liderança com visão e coragem
Não basta responder ao que está a acontecer. É preciso interpretar, antecipar e agir com consistência. A gestão empresarial não pode continuar a ser reativa – precisa de ser proativa, consciente e contextual.
Os líderes do presente precisam de desenvolver novas competências: pensamento crítico, capacidade de interpretar sinais fracos, domínio de cenários, sensibilidade cultural, entendimento de risco sistémico e foco no impacto.
O mundo mudou. A pergunta é: a sua empresa mudou com ele?
O ReThink é um convite claro: repensar para liderar. Porque no mundo em transição em que vivemos, quem não repensa, arrisca-se a desaparecer.